Bom dia!
É caso para boa disposição, agora que o desconfinamento e a vacinação prosseguem a todo o gás — mas com os devidos cuidados, é claro (um pouco à semelhança dos anúncios a bebidas alcoólicas que trazem aquele asterisco em baixo a pedir moderação no consumo).
Falando em álcool, esta semana que passou tive o prazer de partilhar um jantar de amigos de encher o peito, onde me serviram um whisky com mais de 30 anos… Sem palavras. Obrigada aos anfitriões maravilhosos, que deram a oportunidade de sentir uma brisa da normalidade dos velhos tempos. E ofereceram o o whisky, é claro.
Jantares maravilhosos à parte, o mundo continua a girar. Vamos ver o que se passou por lá nos últimos dias?
Ponto de ordem
A Colômbia está a ferro e fogo, depois de os protestos de 2019 se terem reacendido após o anúncio de uma reforma tributária do Presidente Ivan Duque, que aumentaria impostos num país massacrado pelo desemprego e crise social. As manifestações têm sido particularmente marcadas pela violência. Para o resumo de tudo o que aconteceu, sugiro como sempre uma belíssima síntese da BBC.
Desde o início das manifestações, a 28 de abril, mais de 30 pessoas já perderam a vida. O jornal colombiano El Espectador dá nome e rosto às vítimas. E o argentino Página 12 faz a reportagem com vários colombianos que se sentem indignados.
Os jovens compõem grande parte destes manifestantes (El País), mas os grupos que compõem as manifestações são bem mais heterogéneos e complexos, como demonstra esta excelente análise do sociólogo espanhol Jorge Galindo, também no El País.
Mas o que exigem em concreto os que saem à rua? A BBC explica, com o contexto devido. E o America’s Quarterly debruça-se sobre o facto de este enorme aumento de impostos também contribuía para reforçar apoios sociais.
A resposta da polícia e dos militares foi, porém, marcada por uma violência extrema. Veja-se o testemunho do jornalista colombiano Javier Zamudio (The New York Times):
Hablo con otra persona de la brigada en Cali, una joven de 23 años que prefiere mantener el anonimato. Me cuenta que fue agredida por dos hombres vestidos de civil que cargaban radioteléfonos. La golpearon en piernas, manos y abdomen mientras la acusaban de pertenecer a la guerrilla. Logró escapar con ayuda de la comunidad.
Escucho esta historia y me pregunto si lo que está ocurriendo marca el final de la carrera política de Iván Duque. En su alocución de este día, el presidente ofrece recompensas por información sobre las personas que han cometido actos vandálicos contra la ciudad, pero no dice nada de aclarar los hechos en los que han sido asesinadas más de 30 personas, según últimos reportes.
Quão efetivas podem ser manifestações populares e qual o impacto da violência policial como resposta? A especialista holandesa Jacquelien Van Stekelenburg tenta dar algumas respostas (El Espectador). Certo é que Ivan Duque já recuou ligeiramente, demitindo o ministro das Finanças (La Vanguardia). Mas o impacto da brutalidade policial e militar pode ter agravado o seu próprio futuro — veja-se o aumento da popularidade de Gustavo Petro, o ex-guerrilheiro do M19 tornado político de esquerda que pode ser o principal beneficiário político desta situação, como explica o Semana.
Certo é que não devemos desviar os olhos da Colômbia, até pelo possível elemento de contágio a outras partes da América Latina. E deixo-vos com esta reflexão de um antigo membro do governo do antecessor de Duque, Juan Manuel Santos, publicada num bom artigo de análise do El Mundo:
Para quien fue Secretario General de la Presidencia de Juan Manuel Santos, Alfonso Prada, "no puede haber ganador con muertos y heridos. Solo la clase media que logró el retiro de la reforma tributaria por medio de la protesta pacífica. Duque ha perdido gobernabilidad por sus permanentes errores en varios frentes. La puede recuperar con diálogo, con humildad y tolerancia, con los partidos que le han hecho críticas, con el Comité del paro, entre otros".
Outras latitudes
Quem votou em Isabel Diaz Ayuso em Madrid? (El País)
A encruzilhada da direita francesa (L’Echo)
O Reino Unido foi a eleições (municipais, alguns lugares legislativos e no Parlamento escocês). Aqui fica uma boa análise do resultado (The Economist)
Porque o tabloide Daily Mail continua a ser o favorito da Middle England (Unherd)
Na Polónia, as crianças e adolescentes enfrentam uma crise mental para a qual não há respostas (Balkan Insight)
Como Donald Trump se está a tentar reorganizar politicamente (Washington Post)
Viver numa autocaravana é uma realidade cada vez mais comum nos EUA (Time)
Mourão, a terceira via dos generais para afastar Bolsonaro no Brasil? (Agência Pública)
O problema das vacinas para a Covid-19 em África (Carnegie Endowment)
Em Israel, o Ramadão tem sido marcado por violência policial contra os árabes (972 Mag)
O desastre político de Modi na Índia (The Economist)
A Covid-19 já chegou ao Evereste (Washington Post)
A história de um militar que abandonou a Junta em Myanmar (Radio Free Asia)
Nas Filipinas, haverá alguém para fazer frente a Rodrigo Duterte? (Nikkei Asia)
O que acontece quando uma perfumista perde o olfato (Elle)
O efeito da pandemia sobre os jornalistas que a cobrem (Study Hall)
Regresso ao futuro
A tomada de posse de Nelson Mandela como Presidente dos sul-africanos aconteceu precisamente há 27 anos. Um evento histórico, relatado em pormenor pela BBC à altura.
As primeiras eleições livres e abertas a todos na África do Sul foram um evento extraordinário que pôs fim de facto ao sistema de apartheid. As fotografias do evento comprovam a alegria (The New York Times).
O percurso de Mandela até àquele momento tinha sido marcado pelo ativisimo (primeiro pacífico, depois violento) e pela prisão, em condições duríssimas (National Geographic). Mas com a libertação do líder do ANC e a sua candidatura às eleições, iniciou-se um processo complexo para garantir a realização de um ato eleitoral em condições verdadeiramente livres. A Foreign Policy tem um relato fantástico de como foram organizadas e geridas.
Do lado da campanha de Mandela, as memórias de Stanley Greenberg — cujo um excerto foi publicado na American Prospect — são de uma riqueza impressionante. E também o relato da Associated Press de 1994 sobre a jornada eleitoral é uma viagem ao passado a não perder.
Para terminar, deixo-vos com a reflexão da Bloomberg sobre o legado de Mandela e o presente complicado do ANC. Vale a pena.
Sou toda ouvidos para…
Jair Bolsonaro é o Messias para uns, o Diabo para outros. Mas quem é verdadeiramente o homem que abalou a política brasileira? É essa a resposta que o podcast Retrato Narrado, da Piauí, tenta responder. De tom neutro, pesquisa minuciosa e reportagem colorida, é um retrato a não perder. Basta ouvir o primeiro episódio, na terra onde Bolsonaro cresceu, para ficar agarrado.
GIF da semana
Continuamos a desconfinar e a receber a Primavera de braços abertos. E como estes próximos dias podem ser marcados pelo futebol, caso o Sporting se torne já campeão, deixo-vos com um sinal de otimismo para esta semana, dado por uma grande figura deste desporto. Endavant, como diria Guardiola!
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