Bom dia!
Eu sei, eu sei, estamos todos a derreter. Dúvidas existissem sobre as alterações climáticas, os verões mais quentes de sempre sucedem-se, ao mesmo tempo que dezenas morrem em cheias na Europa Central.
Para os que não estão de férias e não se podem refrescar no mar, rio ou piscina, aqui fica uma sugestão prática para lidar melhor com estes dias. E agora, vamos ao nosso Meridiano.
PS: A primeira entrevista exclusiva para os nossos assinantes premium já saiu! Houve conversa sobre o Brasil atual e muito para lá de Bolsonaro. Se quiser lê-la e acompanhar as próximas, é só começar a apoiar este projeto.
Ponto de ordem
Esta semana, seria imperdoável não falarmos do que se passa em Cuba, ou não estivéssemos a falar das maiores manifestações no país desde a década de 90. O Periodismo de Barrio, um dos poucos órgãos de comunicação independentes do país, dá o resumo do que se passou desde o fim-de-semana passado, a partir de San Antonio de Los Baños. Para quem preferir uma visão mais ocidental temos, como habitualmente, a BBC. E há sempre as imagens, de impacto incontornável (El País).
Em causa estão manifestações contra a situação económica cada vez mais degradada do país. Miguel Díaz-Canel, sucessor dos Castros, culpa o bloqueio económico norte-americano e acusa os EUA de estarem por trás dos protestos. Independentemente do peso do bloqueio na economia cubana, certo é que a Covid e a consequente quebra no turismo acentuaram ainda mais uma miséria que já existia (The New York Times). Foi essa miséria que levou ao romper da corda, como contaram vários dos participantes ao 14 y Medio, outro jornal independente cubano:
A los corresponsales de medios internacionales les exhorta: "No cuiden más sus credenciales y digan la verdad. El Centro de Prensa Internacional está poniendo en tela de juicio lo que ellos dicen para quitarles las credenciales y los están manipulando. Que se diga la verdad, sin exageraciones, pero que se diga lo que está pasando".
"¡El hambre nos movilizó! El hambre nos comió el miedo", concluye Guerra, con una reflexión parecida a la del reguetonero Yomil, quien escribió en Twitter "De tanta hambre que pasamos nos comimos el miedo".
O acesso à internet é, como sempre, limitado (Periodismo de Barrio). Mas há cubanos a mobilizarem-se mesmo assim, com o envolvimento até de artistas que alimentam a indignação, como nos conta o Wall Street Journal sobre a história de Maykel Castillo e Luis Manuel Otero. Em vez da frase “Patria o Muerte”, os rappers respondem “Patria y Vida”.
A Amnistia Internacional dá os dados, inquestionáveis, sobre a repressão. E a Revista El Estornudo, no seu editorial, ajuda a perceber a complexidade no terreno:
Pero si el discurso supremacista y la violencia planificada de la élite del poder en Cuba son la continuidad de una ideología y una práctica histórica, la sociedad cubana resulta hoy, por el contrario, mucho más diversa y plural, se organiza, relaciona y comunica progresivamente fuera de los mecanismos de control y el monopolio comunicativo del Estado. En los últimos años, la emergencia de movimientos feministas, antirracistas, ambientalistas, animalistas, LGTBIQ+, así como la resistencia del Movimiento de San Isidro y la protesta de artistas e intelectuales frente al Ministerio de Cultura del 27 de noviembre de 2020, demuestran la obsolescencia del relato de oposiciones binarias, propio de la Guerra Fría, con que los estandartes mediáticos, organizaciones y figuras internacionales de la izquierda tradicional más ortodoxa comienzan a asumir el conflicto entre el Gobierno, la sociedad civil y el pueblo en general.
Por cá, no Meridiano, olhamos sempre com atenção para os anseios de democracia de qualquer povo, seja onde for. E para as violações de direitos humanos. Do regime desumano de Pinochet aos crimes do Estalinismo, de Bolsonaro à Coreia do Norte, da direita iliberal húngara à revolta em Cuba. A democracia e os direitos humanos são demasiado importantes para whataboutismos.
Outras latitudes
Mais um perfil esclarecedor sobre Boris Johnson (The Atlantic)
Na Grécia, os requerentes de asilo continuam a enfrentar dificuldades inimagináveis (Infomigrants)
Os locais onde os Presidentes norte-americanos passam férias estão cheios de História (Washington Post)
O debate em torno da sindicalização de trabalhadores numa fábrica da Amazon (Harper’s Magazine)
Na Nicarágua, as prisioneiras de Daniel Ortega (Agência Pública)
O território da ex-Jugoslávia continua a ser um sítio de dor e questões por resolver (Der Spiegel)
A violência que abala a África do Sul (The Guardian)
Como a sátira está em vias de extinção na Turquia (Newlines Magazine)
No Iraque, a queda da estátua de Saddam revela muito sobre os tempos em que vivemos (The Guardian)
Os órfãos da Covid-19 na Índia (The New York Times)
O homem que criou a estratégia “guerreira” da diplomacia chinesa (The New York Times)
O impasse na Indonésia (The Interpreter)
Porque não nos podemos esquecer de Myanmar (G-Zero)
Uma excelente entrevista a Claire Andrieu sobre os impactos da II Guerra Mundial em populações com culturas diferentes (Sciences Po)
Regresso ao futuro
Hoje assinalam-se os 79 anos do Rafle du Vel' d'Hiv, a maior deportação de judeus em França durante a II Guerra Mundial, em pleno regime de Vichy. Para compreender tudo o que está em causa, a Sciences Po tem este excelente trabalho de Laffitte Michel sobre os cerca de 13 mil judeus afetados por esta ação e tudo o que está comprovado historicamente.
Depois, temos as histórias dos sobreviventes. Vejamos a de Sarah Lichtsztejn-Montard, à France 24:
Maria Lichtsztejn tente de résister, mais sans succès. "Ils ont mis les scellés sur la porte comme pour des délinquants. Mon enfance s’est écroulée à ce moment-là. Jusque-là, j’avais toujours pensé que les grandes personnes avaient raison, mais là, ce n’était plus le cas". Dans la rue, la jeune lycéenne découvre un spectacle effroyable. Dans ce quartier populaire, ce sont des centaines de personnes qui sont conduites de force à l’extérieur des immeubles: "Certains avaient mis des affaires dans des draps, d'autres portaients des matelas d'enfants. Les parents étaient complètement affolés, l’air hagard. Ils tenaient à bout de bras des petits mal réveillés qui pleuraient, le tout entouré par des policiers. C’était un choc terrible".
No Herodote, reflete-se sobre a responsabilidade dos franceses nesta tragédia, ainda tão mal lidada. Prova disso é a reação dos políticos ao tema, sempre desconfortável, aparte o reconhecimento de Chirac (France Inter).
Sou toda ouvidos para…
Chama-se China, If You’re Listening e é produzido pela cadeia de rádio-televisão australiana ABC. Na Austrália, a proximidade geográfica da China tem feito surgir muito jornalismo interessante sobre o vizinho gigante e este podcast é um dos casos. Vejamos este primeiro episódio, sobre a vida de Xi Jinping. Fiquei a descobrir que o Presidente, em adolescente, participou em sessões públicas de julgamento social onde foi insultado e chegou a ser entregue pela própria mãe depois de fugir. Tudo com a seriedade, equilíbrio e contexto que se querem.
GIF da semana
E é tudo esta semana! Deixo-vos com um guaxinim que não sei se está a meditar ou a prometer um abraço. Ambas as coisas fazem bem, por isso aqui fica.
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Espero que tenha gostado desta edição do Meridiano de Greenwich. Se for o caso, não se esqueça de recomendar aos seus amigos que o subscrevam. Esta newsletter é publicada todas as sextas-feiras. Tenha uma boa semana!